“Quando o número de mulheres ocupadas aumenta, as economias crescem”

Entrevista com Paula Coto, diretora executiva de Chicas em Tecnologia. Parte I

A inclusão de gênero em âmbitos de decisões é uma meta que a maioria dos países da América Latina e do Caribe, todavia não alcançaram. Principalmente no que se refere ao setor de tecnologia, por isso é necessário que siga trabalhando na conscientização e na formação de crianças e jovens para alcançar esses objetivos.

Paula Coto, diretora executiva de Chicas em Tecnologia.

Sobre este tema trata a entrevista que o Brecha Zero realizou com Paula Coto, que é diretora executiva de Chicas em Tecnologia. Que conta com um mestrado em educação pela Universidade de San Andrés e um mestrado em Políticas Públicas pela Universidade de  Strathclyde, Glasgow; e é licenciada em Sociologia pela Universidade de Buenos Aires. Também possui pós-graduação sobre estudos a respeitos dos governos da Argentina e do Reino Unido. E foi reconhecida com a participação no Emerging International Leaders Programme da organização Cumberland Lodge e o Programa Mujeres Líderes del Cono Sur de Voces Vitales.

Brecha Zero: Quais políticas públicas são realizadas frente às autoridades para reduzir a desigualdade digital de gênero?

Paula Coto: É essencial investir na educação das mulheres jovens e fortalecer a perspectiva de gênero nos ambientes educativos de modo a superar as barreiras de acesso e expandir o seu interesse pelas áreas da ciência e tecnologia. A América Latina tem o desafio de completar trajetórias escolares e motivar as mulheres jovens diante de preconceitos, estereótipos e falta de modelos. Essas dificuldades têm impacto total nas escolhas de vida na hora de decidir se devem seguir essas trajetórias.

No que diz respeito ao mercado do trabalho, há vagas não preenchidas na área tecnológica por falta de pessoas capacitadas para os novos perfis exigidos. Devem ser articuladas iniciativas de inserção profissional que permitam às mulheres, em toda a sua diversidade, desenvolverem-se como profissionais líderes no setor. Ouvimos falar de tetos de vidro, de pisos pegajosos ou da disparidade salarial que afeta as trajetórias das mulheres. Nas áreas de tecnologia e ciência, menos de 20% das mulheres ocupam cargos de liderança; a falta de reconhecimento por suas contribuições inibe a forma de se posicionar nesses espaços.

Entendemos que é fundamental gerar informações e evidências sobre iniciativas que visam promover a participação das mulheres em STEM, bem como monitorar suas trajetórias e condições de trabalho em diferentes setores. Ter dados permitirá uma compreensão aprofundada do problema, priorizando esforços para enfrentá-lo. As evidências que geramos sobre o problema permitem-nos orientar os nossos programas e iniciativas para o contexto em que atuamos. Além disso, as bases de dados e os resultados são acessíveis ao público para que os setores públicos, acadêmicos e privados possam desenvolver políticas e tomar decisões que permitam a integração das mulheres e das minorias nas disciplinas STEM.

Neste sentido, acreditamos que o compromisso deve ser de todo o ecossistema, por isso na Girls in Technology trabalhamos em aliança com os diferentes setores. Ao mesmo tempo, acreditamos que é importante envolver a sociedade à problemática, uma vez que a tecnologia atravessa a rotina de todas as pessoas. Isto permitirá gerar mudanças culturais profundas destinadas a melhorar as condições e oportunidades das gerações futuras, o seu acesso e permanência no setor e o desenvolvimento de sociedades mais inclusivas.

Lacuna zero: Quão importante é acabar com a disparidade digital de gênero?

Paula Coto: Foi demonstrado que o aumento das oportunidades de liderança para as mulheres torna as organizações mais eficazes. Estima-se que as empresas onde três ou mais mulheres ocupam cargos executivos seniores apresentam um desempenho superior em todos os aspectos da eficácia organizacional.

Quando o número de mulheres empregadas aumenta, as economias crescem. De acordo com estudos realizados em países da OCDE e em alguns países não pertencentes à OCDE, o aumento da participação das mulheres na força de trabalho – ou uma redução na disparidade entre a participação de mulheres e homens na força de trabalho – produz um crescimento econômico mais rápido.

O crescimento também está relacionado ao tipo de tecnologia que podem construir. Ou seja, atrair talentos diversos para empresas de tecnologia pode enriquecer o desenvolvimento de soluções e a perspectiva sobre os problemas a serem resolvidos.

Por exemplo, na Girls in Technology trabalhamos particularmente com tecnologia com vista ao impacto social. Essa tecnologia busca impactar positivamente ambientes e comunidades. Isso é possível com a incorporação dessas mulheres.

Lacuna zero: Quais ferramentas a 5G fornecerá para avançar em direção à igualdade de gênero?

Paula Coto: A implementação da 5G na América Latina é algo que se vem sendo trabalhada há muitos anos porque é necessário gerar o ecossistema adequado para aproveitar o potencial econômico da rede.

A tecnologia desempenha cada vez mais um papel transversal nas diferentes áreas da vida das pessoas. O conhecimento tecnológico torna-se um requisito necessário para sermos protagonistas nos processos de inovação e transformação em curso.

A adoção da 5G irá agilizar a utilização de tecnologias e aplicações avançadas. É uma conectividade produtiva e voltada para a indústria, mas para isso deve ser construído um contexto adequado, no qual os desenvolvedores de software estejam inseridos. E nesse sentido, a atenção principal deve ser dada à incorporação das mulheres nesta área.

Hoje, as mulheres representam apenas 30% das pessoas que trabalham em áreas relacionadas com software. Isso é um problema, pois essas áreas concentram a maioria dos empregos e têm muito crescimento neste momento.