Entrevista com Pilar Girón Dávila; Chief People Officer da Telefónica Hispam. Parte II
Entre os desafios enfrentados pelas autoridades na América Latina e no Caribe está o de acabar com a a brecha digital de gênero. Nesse sentido, é importante realizar esforços para que a maior parte da sociedade possa acessar os serviços de banda larga.

Sobre essas questões, o Brecha Zero conversou com Pilar Girón, a Chief People Officer da Telefónica Hispam. Ela tem mais de 25 anos de experiência executiva e liderança em empresas que são autoridades em setores relevantes, como consultoria de gestão. Possui uma licenciatura pelo ICADE de Madri e um MBA pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia.
Brecha Zero: Qual é a importância de acabar com a brecha digital de gênero?
Pilar Girón: É de extrema importância e a tecnologia e a conectividade são grandes potencializadores desse processo. Por meio de projetos da Telefônica como o Conectarse para Crescer, que busca reconhecer e promover iniciativas em áreas rurais que usam tecnologias de informação e comunicação (TIC), ouvimos histórias de mulheres que conseguiram progredir por meio do uso das TIC. Para citar outro exemplo, temos o caso do Kamay, projeto que busca manter vivas as diferentes culturas indígenas do Peru por meio de cursos online ministrados por artesãos, em sua maioria mulheres, dando-lhes, assim, oportunidades de renda e desenvolvimento pessoal.
Dessa forma, o primeiro passo para acabar com a brecha digital de gênero é expandir a conectividade, especialmente em áreas rurais e remotas. Um novo esforço cooperativo e colaborativo é necessário entre empresas e autoridades para criar formas inovadoras de implantar infraestrutura que permitam o acesso à Internet.
Na Telefónica temos o Manifesto Rural, um documento que contém uma análise da brecha digital nas áreas rurais da região e propostas para trazer os benefícios do mundo digital para essas localidades, construindo um novo modelo que gira em torno de três eixos principais: inovação, cooperação e sustentabilidade.
Brecha Zero: Qual é a importância dos serviços de banda larga móvel para acabar com a brecha digital de gênero?
Pilar Girón: Em 2019, um estudo do BID sobre o impacto da infraestrutura digital nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para os países da América Latina e do Caribe propôs que o aumento da penetração da banda larga poderia gerar melhorias no produto interno bruto e na produtividade dos países, contribuindo para a geração de empregos diretos. No caso da banda larga móvel, ela beneficia principalmente as economias emergentes, o caso da maioria dos países da região.
No entanto, além de uma brecha no acesso à banda larga móvel, existe também uma brecha digital de gênero no acesso a terminais e na utilização da conectividade. Na América Latina, 14% das mulheres não têm acesso a um telefone celular (o que equivale a 31 milhões de mulheres) e em relação ao uso da internet móvel, 34% (cerca de 76 milhões de mulheres) não usam seus telefones para conectar-se à internet, de acordo com o Relatório da Sociedade Digital da América Latina 2022.
Nesse sentido, a expansão da cobertura da banda larga móvel terá impacto na exclusão digital de gênero e deve ser acompanhada de ações que promovam o melhor uso da tecnologia pelas mulheres, como a educação em habilidades digitais. Na Telefónica, além de focar no acesso à conectividade como base para a inclusão digital, promovemos a formação em conhecimentos digitais, seja para crianças ou adultos.
Brecha Zero: Quais ferramentas a 5G fornecerá para avançar em direção à igualdade de gênero?
Pilar Girón: Para a Telefónica Hispam, o futuro da 5G representa a evolução natural das redes móveis. Nesse sentido, cada mercado deve encontrar o momento certo para torná-lo realidade. No entanto, estamos convencidos de que as tecnologias atuais, como a fibra óptica e a rede 4G, ainda têm um longo caminho a percorrer. Mais do que tecnologia (seja ela 4G ou 5G), o importante é o acesso à internet. Como apontei anteriormente, sabemos de vários casos de mulheres que usam a tecnologia e a conectividade para progredir.