A 5G será um elemento-chave para impulsionar a digitalização na América Latina

Entrevista com Antonio Correa, RVP Sênior da Mavenir para o Sul da Europa, Caribe e América Latina

O desenvolvimento da 5G promete estimular o processo de digitalização na América Latina e no Caribe. Devido às suas características, as tecnologias de banda larga móvel permitem o desenvolvimento de diferentes mercados verticais, promovendo o desenvolvimento econômico a partir da sua combinação com outras tecnologias como o big data ou a Internet das coisas.

Antonio Correa, RVP Sênior da Mavenir para o Sul da Europa, Caribe e América Latin

Sobre essas questões, o Brecha Zero conversou com Antonio Correa, vice-presidente sênior regional do Sul da Europa, Caribe e América Latina da Mavenir. Com mais de 20 anos de experiência em Telecomunicações, Antonio lidera a gestão de contas globais na Mavenir. Antes de ingressar nessa empresa, Antonio foi Diretor de Contas Globais da Oracle, bem como Executivo de Contas para o Caribe e América Latina da Nokia (Alcatel-Lucent).

Brecha Zero: Quais tecnologias da informação e comunicação (TICs) você acredita que irão contribuir para a melhora das condições econômicas na América Latina nos próximos anos? Como você acha que elas podem fazer isso?

Antonio Correa: Existem duas tecnologias que podem ajudar a alavancar a economia latino-americana, tornando-a mais competitiva e promovendo a automação de setores-chave. Por um lado, a implantação da 5G se tornará um elemento crucial para impulsionar a digitalização. Dessa forma, essa tecnologia ficará mais acessível, permitindo que zonas mais desfavorecidas ou nas quais tradicionalmente serviços de telecomunicação são mais caros, como é o caso das áreas rurais, tenham acesso a novos recursos tecnológicos. Por outro lado, a tendência imparável de democratização da tecnologia passa pela tecnologia aberta, como tem acontecido no mundo dos hyperscalers (como o Google, Amazon e Microsoft). Da mesma maneira, o aparecimento do OpeRAN é um marco inédito na democratização da tecnologia de acesso via rádio, essencial para a 5G.

Brecha Zero: Dentre os diversos setores da economia, como bancário, agricultura, turismo ou manufatura, em qual você acha que essas tecnologias terão mais impacto?

Antonio Correa: A transformação digital e a automação de processos vinculados à 5G ocorrerão em todos eles igualmente, embora, talvez, tudo o que estiver atrelado à Indústria 4.0 e aos setores relacionados a ela (manufatura, agricultura, infraestrutura de comunicação e transporte) seja onde essas tecnologias produzirão as mudanças mais relevantes.

Brecha Zero: Em que medida os esforços das autoridades dos países da região para acabar com a brecha digital influenciam o sucesso que essas tecnologias podem ter?

Antonio Correa: No caso da tecnologia 5G, é necessário que haja uma legislação que facilite o acesso ao espectro tanto para as operadoras de telecomunicações, através de um modelo de licenciamento racional e não confiscatório, como para os diferentes players do setor, disponibilizando-lhes espectro em faixas reservadas para que possam implantar seus próprios serviços.

Por outro lado, a América Latina é um mercado com legislações muito fragmentadas, com grandes diferenças tanto nas políticas regulatórias quanto nas políticas tributárias e tarifárias, que penalizam fortemente as importações em uma tentativa equivocada de protecionismo da indústria local. É necessário reforçar as competências nacionais sem penalizar a competitividade das suas empresas com modelos tarifários desenhados para estruturas de negócio de meados do século passado.

Brecha Zero: Qual é a importância das tecnologias de banda larga móvel no desenvolvimento da economia latino-americana?

Antonio Correa: A implantação da 5G e o aumento da banda larga fixa são absolutamente essenciais, sendo ambas as tecnologias complementares e convergentes.

Brecha Zero: Quais iniciativas você acha que são necessárias no mercado para aumentar a adoção de serviços de banda larga móvel em diferentes setores produtivos do país?

Antonio Correa: A principal iniciativa seria não retardar artificialmente sua implementação com políticas arrecadatórias e fiscais. Foi comprovado que a implantação da 5G é muito mais difundida nos países e regiões que facilitam a disponibilidade de espectro, mesmo havendo requisitos de cobertura e qualidade, mas sem penalizar excessivamente a receita das operadoras com impostos e obrigações regulatórias pesadas e muitas vezes desatualizadas.

Por outro lado, uma política de promoção e desenvolvimento do ecossistema industrial através do apoio à inovação e I&D é muito mais eficaz do que a introdução de políticas tarifárias protecionistas. É aí que, através do desenvolvimento de marcos e programas de colaboração para o adensamento do setor industrial, os agentes do mercado (indústria, administrações públicas, fabricantes…) devem atuar.